quinta-feira, 18 de junho de 2009

Amorim: Recontagem de votos no Irã é decisão 'respeitável'

Silvia Salek
Enviada especial da BBC Brasil a Astana

Irã recontará votos após protestos que acusam ter havido 'fraude' eleitoral
O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, disse nesta quarta-feira que a decisão dos líderes iranianos de determinar uma recontagem limitada dos votos é "respeitável".
Em uma entrevista em Astana, no Cazaquistão, Amorim rebateu ainda as críticas de que faltou ao governo brasileiro "cautela" ao emitir declarações positivas sobre o conturbado processo eleitoral iraniano.
"Deixa eles resolverem o problema. Vamos esperar o processo terminar", afirmou Amorim.
"É respeitável que tenha se decidido dar uma satisfação à população (ao determinar a recontagem)."
Em declarações na segunda-feira, em Genebra, o presidente Lula havia dito que "não há provas" de fraude nas eleições iranianas - como alega a oposição. Até aquele momento, disse Lula, as disputas pareciam "um pouco coisa de flamenguistas e vascaínos", declarou o presidente.
Nesta quarta, o ministro Amorim rebateu críticas de que faltara ao governo brasileiro cautela ao abordar o tema. Rejeitou também acusações de que o Brasil tem se aproximado, em organismos multilaterais como o Conselho de Direitos Humanos da ONU, de governos com históricos questionáveis de direitos humanos.
"Tem gente que quer falar de direitos humanos para ficar em paz com a própria consciência, purgar pecados do colonialismo, e tem gente que vai para melhorar a situação dos países", disse Amorim.
"Para melhorar a situação do Sudão, eu tenho que conversar com a União Africana. Para melhorar a situação do Sri Lanka, tenho que engajar o Sri Lanka."
O Brasil é acusado de "pegar leve" com esses países no Conselho de Direitos Humanos da ONU - atitude que o governo diz ser "construtiva", mas que organizações não-governamentais classificam como "conivente".
O próprio Cazaquistão é governado por um presidente reeleito desde 1991 em processos eleitorais polêmicos, e acusado de cercear a oposição.
"Eu fui ao Zimbábue, estive com (o presidente Robert) Mugabe e (com o opositor Morgan) Tsvangirai. Muita gente pode ver isso criticamente. Mas muitas vezes o perfeito é inimigo do bom", disse Amorim.
"Nós temos que ter um processo evolutivo. O que queriam as potências europeias? Que Mugabe saísse na hora e entrasse Tsvangirai. Teria havido guerra civil, milhares de mortos, será que teria sido melhor?", defendeu.

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