quarta-feira, 17 de junho de 2009

'Depois da crise, ficamos mais iguais', diz Lula no Cazaquistão

Segundo presidente, depois da crise ninguém mais tem muita certeza do que faz.

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enviada especial da BBC Brasil a Astana - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta quarta-feira no Cazaquistão que a crise tornou os países mais iguais, abalou certezas e abriu espaço para a construção de uma nova ordem global.

"Antes da crise, tínhamos países que sabiam mais do que os outros. Antes da crise, o Estado não tinha nenhum papel relevante. Depois da crise, todos nós ficamos mais iguais".

"Já não existe mais ninguém no mundo com certeza absoluta do que faz", disse o presidente durante a visita ao palácio presidencial de Akora, sede do governo cazaque.

"Por isso, existe uma possibilidade enorme de trabalho para a nova ordem financeira mundial. Para isso, temos que reformar as Nações Unidas e fortalecer e reformar as instituições financeiras internacionais, sobretudo o FMI e o Banco Mundial", acrescentou Lula ao lado do presidente cazaque Nursultan Nazarbayev.

Ex-líder do país durante o regime soviético, Nazarbayev foi eleito presidente em 1991, ano em que a União Soviética se desintegrou, e reeleito em 1999 e 2005, estando no poder há mais de 20 anos.

'Convergência'

Lula é o primeiro presidente da América Latina a visitar o país, que tem umas das maiores reservas inexploradas de petróleo do mundo.

Segundo Lula, Brasil e Cazaquistao convergem na iniciativa de democratização da ordem mundial. "O mundo mudou, e é preciso agir conforme as novas regras", disse.

Ao descrever o encontro com o presidente cazaque, Lula disse: "Mencionamos as iniciativas para reformas das instituições econômicas e políticas", disse, referindo-se à ordem global e não à situação interna do Cazaquistão, cujo presidente vem sendo reeleito em pleitos criticados por diversas organizações.

Brasil e Cazaquistão têm um volume de comércio ínfimo, de US$ 50 milhões, segundo a embaixada brasileira em Astana. Os números do governo do Cazaquistão são maiores, de US$ 270 milhões. A diferença se deve à triangulação no comércio que faz com que o país seja passagem para outros destinos de exportações brasileiras na região. Os dois países dizem ver um grande potencial de expansão.

Lula anunciou que, em setembro, o vice-ministro brasileiro da Indústria, Desenvolvimento e Comércio virá ao Cazaquistão, acompanhado de uma missão empresarial, e que o Ministério das Minas e Energia vai discutir parcerias com o país na área de biocombustíveis e petróleo.

O ministro das Relações Exteriores brasileiro, Celso Amorim, acrescentou que o BNDES e o banco de fomento cazaque estão próximos de uma parceria que pode prever o financiamento de investimentos recíprocos.

Nova Ordem

As declarações de Lula sobre a nova ordem global, ao lado do presidente do Cazaquistão, reforçam o resultado da cúpula dos países emergentes do BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), realizada nesta terça-feira na cidade russa de Ecaterimburgo.

No documento final, eles defenderam uma serie de interesses comuns principalmente na área econômica e financeira.

O presidente cazaque mencionou que existe grande potencial de ampliar a relação entre os dois países, citando possibilidades na área de economia e também de intercâmbio político, sem dar detalhes.

Durante o discurso, Lula mencionou também um projeto que levou 26 adolescentes do Cazaquistão para jogar futebol no Brasil. O projeto, Olé Brasil F.C., tem mais 11 na lista de espera.

"Espero que os jovens no Cazaquistão não fiquem melhores do que os brasileiros, no máximo, iguais", brincou Lula. BBC Brasil - Todos os direitos reservados.

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